quinta-feira, 28 de junho de 2012

uma cisão é
que foi
feita um curativo
usado e envelhecido posto
como disfarce eu
sou bom nisso até a
data que não vem
determinada no rótulo como
eu acho que deveria

a página do blog manchada
como um caderno que é
manchado
como
isto:

a arte

estou do lado de fora hoje,
observando como as crianças,
estão grandes,
e lindas,
e como as sementes que nós,
plantamos estão crescendo,
e como parece que o sol,
brilha mais forte enquanto,
você sorri,
eu costumava saber tudo,
sobre você mas,
vivo me redescobrindo,
dia-a-dia e já,
não tenho mais o direito de te conhecer,
eu troquei o direito de te ter,
pelo direito de ter a mim,
num quarto escuro de hotel,
escrevendo num papel sujo de vinho,
com a cara amassada e a alma em pedaços,

mas hoje eu estou aqui,
te observando,
do lado de fora,
como eu sempre quis,
observando,
do lado de fora

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Fábulas


Sempre foge acolá
As palavras dançam no papel
Tantas transpirações
Poemas acrobáticos
Insinuações ou apenas
apelo sexual
Não sei
As palavras fazem
(seu papel)
Criam os sulcos
No encéfalo só para
Caber no cálice de ossos
Atlás e Axis sabem
O quão pesado são as palavras.
A caneta morde o papel
Desrepeita o pobre amontoado de celulose
As curvas em alta velocidade
Tatuam esferas esferográficas
Esses dias teve acidente
O caso em si
A caneta colidiu no papel
Sem meias palavras
Sangrando-o
Não teve nenhuma vítima fatal
Além do poeta
Boquiaberto
Com a metáfora
que dentro fugiu
Mil folhas
Perdido entre prateleiras de um
Sebo qualquer.

terça-feira, 26 de junho de 2012

o chão sendo meu amigo
é mudo e
não me olha no rosto não
enquanto meu rosto é
visto sobre meu pescoço

tremo até onde der e nunca
dá pra tremer o bastante

a calma é um ídolo
eu pretendia
quebrar imagens e

matar uma
pomba por dia

a pessoa antes fechou o rosto
fez com que a boca abrisse
mas não toda
e de toda ela muito pouco

vôo pouca palavra prestante
uma poucas que dançavam
cú, rosas, Arnaldo...
e todo mundo deu os olhos

nunca viram pessoa tal com aquela
de pele destoante de todo o restante
lágrimas beirando queixo, trejeito de estrangeiro
e o cheiro de sinceridade entranhado em cada ruga da pele

a pessoa então abriu os olhos
fez com que a boca abrisse mais
agora completamente
e de toda a cavidade ressoante fez um mundo

na frente do público não pagante
tempestearam as frases cacofonicas  
de uma hora pra outra tinham o que ler
o que escrever, comer, defecar e berrar

diziam: chegou o pensante
e logo morreram a mingua do conhecimento
a nau em um mar de letras soltas
citações pajeadas e o caralho a quatro

praça

eu não precisei ir até o fundo,
do poço e voltar pra saber que lá,
não é um lugar legal,
mas eu fui até a praça,
e lá eu vi muitos fundos de poço,
andei por lá como se só eu,
pudesse respirar,
eu só conseguia caminhar,
pelo meio fio,
foi estranho estar bem em,
meio a multidão geralmente,
é o contrário,

- eles estão no fundo do poço,
pensei,
fiquei feliz de não estar junto,
de todos eles estarem juntos,
de não fazer parte daquilo tudo,
senti-me imune pela primeira vez na vida,
que dia,
que dia!

Diante da calçada desigual e o asfalto novo e movimentado
Eu fico com a primeira
Caminho devagar e leve enganando todos os olhares ansiosos
Soando desdém 
E chego a conclusão de que
Aqui as pessoas caminham buscando afeto, lá simplesmente passam
Eu passo por qualquer lugar 
E sinto cada placa como se atravessasse meu corpo 
Como se tivesse uma força sobrenatural
Parasse diante da minha alma e soasse algo parecido com uma ordem
A mesma que ouço todo dia.
É só uma placa.

Mesmo que com isso só sentisse a dor do ferro
E raiva por ter algo pelo caminho
Fecho os olhos e finjo não sentir nada
Tenho pena da placa por ser só um objeto, tenho pena de mim
Por não pensar assim


A cada passo dado aumento
Meu fascínio por pássaros

segunda-feira, 25 de junho de 2012

aquele ladrão correu pra longe e depois um
carro quase atropelou ele
eu disse que parecia filme
é uma bela cena em qualquer filme
sem dúvida perfeito para uma noite de vigilância e de sono
se fosse verdade eu teria agora um vizinho nervoso
e uma porta escancarada no fim do corredor
eu nunca mais iria dormir depois disso e
passaria um dia e meio sem
sentir uma coisa boa
sequer uma coisa boa
eu preciso muito de habilidades escrotas
e preciso delas porque não quero
ver a minha casa invadida
e não quero que a polícia pise aqui
eu não confio nela.

domingo, 24 de junho de 2012


Deitar na cama e esperar o sono
Como quem espera algo ou alguém
Mas o sono não vem, nem o algo nem alguém

Saudades de um futuro que lembra o passado
Misturado, calado, sofrido, nem tudo nos foi permitido
Calado, sofrido, pensado passado, encalacrado metido vivido

O que ela quis dizer com aquele olhar?
O que ela quis olhar com aquele sorriso?

Olhos miúdos, olhos atentos
Olhos que me ferem
Olhos que me fazem querer
Inevitável desejo de te ter

Pensar no que não foi consumado
Querer o que já é passado
Assassinado, maltratado, desolado e sonhado passado

As curvas do teu sorriso
O molde vívido do vitral do seu rosto
Tomam formas geométricas perfeitas
Que só são desfeitas, ou melhor, refeitas
Quando se deparam com os meus, os teus, nossos olhos
Cruzados, paralisados, embebidos pelo êxtase
Da sensação última e sublime, de estar contigo.  
eu escondi cinco reais
pra gente comprar
cigarro bebida ou
um carro

uma investida certeira precisa de
um humor suave mas que consiga
derrubar portas e paredes

só que agora eu só penso no meu pé
42 e no seu apoio mudo
totalmente coberto por meias escuras
no lugar exato que o pé deve ocupar

eu não preciso de um
ombro
tenho pés 42 e meias escuras

e tenho cinco reais escondidos
pra eu comprar
cigarro bebida ou
um carro

Dia dos namorados

Ela comprou papel de presente bem chique com o dinheiro do remédio... Haviam plumas, mas ela tirou com muito cuidado, usou até ferro de passar para desamassar quando tirou da bolsa.
Colocou o papel no topo de uma caixa, que ela mesma fez de origami, e o frasco de perfume sobre o papel, para que fosse descendo suavemente com o peso, embrulhando perfeitamente o presente.
As medidas impecáveis, para ficar tudo simétrico na cesta, junto com os chocolates e bombons.
Passou na embalagem de leve o perfume que ela achava mais gostoso.
Depois fez dois furos em cada lado da caixa com um furador de papel e passou um lacinho bordô, dando um nó, e outro laço com um top bem grande e bonito, tudo perfeito.
Por baixo, a lingerie mais sacana que ela já teve.
O champagne era vagabundo mas estava na pequena bacia transparente, cheia de gelo, do lado da cama.
Espalhou pelo lençol pétalas das rosas que tinha no seu mini jardim, mas ia valer a pena.

O marido chegou em casa todo suado do futebol, tirou da novela dela pra assistir o mengão.
Quando ela veio trazer o presente, ele pegou rapidamente, nem olhou direito, com dois puxões rasgou toda a embalagem e murmurou "valeu", antes de abrir outra cerveja e inclinar o corpo pra ver quem fez o gol.


Depois de Tudo



Saiu-se muito bem.
E o que vai ser depois?
O silêncio que desgasta e a preferência dos iguais?
Mensagens de neuroses de paz numa síndrome de almas vazias
deixam a noite de mãos abertas e adormecidas.

Nas sombras vozes esquecidas morrem de abandono
Mas encaram o que são
vasculhando novas formas de se encontrar
Há o limite para ser e uma ordem para estar
Alimentada pelo que está em ti

O vento veio perguntar
onde está o que havia em ti
A chuva veio dizer
Que se perdeu

 Liberdade é apenas outra palavra pra não dizer que se perdeu.



Senta, vamos conversar
Só não te ofereço whiskey ou cigarro 
Porque não tenho disso aqui
Mas ao menos me diga que te interessa uma boa conversa
É que há boatos de que o mundo acabou faz tempo
E tirei prova disso na última vez que tentei desabafar
Ao acabar a bebida da minha companhia
Ela saiu porta a fora em busca de mais
E me deixou ali
Mas quem sabe se tu fores paciente
Depois de te apresentar bons argumentos 
Na próxima vez que conversarmos
Sentaremos pra falar sobre qualquer coisa
E com apenas um singelo copo d’agua
Sairás satisfeito.
o que eu sinto ou,
deixo de sentir é,
mera confusão de,
algo em mim que não,
tem nome forma,
ou cor o que eu sinto,
ou deixo de sentir é,
só o que o tempo fez,
comigo o que sobrou,
de todas as surras que,
eu já levei é o que eu,
sinto por todo mundo,
eu não nasci assim,
e nunca quis ser assim,
e não quis também que,
tentassem me mudar mas,
todo mundo tenta

sábado, 23 de junho de 2012

Chove



Na serra tá limpo 
Chove
Terra cria sulcos
assim como a minha pele
que tem medo de ser só limo
Chove
O sol não se cansa de salientar
As espinhas do planeta
Chove
E a hipocrisia com seus lábios carmim
Seduz mais um bobo
Exaltando seu flanco
Num tubo iconoscópio

Chove

Saliva de um cão
Sentir o cheiro do cio
A fêmea  agoniza desejo
Chove
Palavras no papel
Trovam coisa qualquer
Talvez pela falta do Carménère
O poeta chove como mar
que traga castelos beira-mar
Já é tarde
Lua nova é de guerra
Em paz 
Chove.


Ilustração: Irina Lucero

sexta-feira, 22 de junho de 2012

essa ideia indelicada não
entra na minha
minibiografia

leio que o sertão tem o solo mais belo
mais belo

penso que a torneira da cozinha tem a água mais próxima
e mais líquida

e bela como o solo do sertão

o progresso não é um
termo vão
minha mão no bolso
também não

meus bolsos são trincheiras
por que essa vida indelicada não
entra na minha
minibiografia

Ser criança pra brincar,
Ter um sonho para explorar,
O que me inspirava desapareceu,
Agora quem vive sozinha sou eu.
Nada de novo acontecia,
Um novo dia expandia.

Em busca de um dia melhor
Esperava,
Para mais uma vez dizer que o amava.

O desejo morria,
Nos braços de quem queria.

No badalar do relógio
O horário a apressava
A morte chegava.
A vida que não escolhia despertava,

O fim que não esperava.
Os caras de cabelo comprido devem ser do curso de história
E aquelas meninas comentam sobre a última festa
Eu sei ficar invisível,
Mero observador in loco,
Que olha o mundo como se não fizesse parte dele.

Hoje eu preciso das músicas dos velhos tempos
Pra lembrar quem eu sou.
Hoje dormi o dia inteiro
E ainda sinto que estou sonhando.

Hoje eu preciso de um espelho
Pra me enxergar como tu és,
Pra te ver como eu sou.
Pra viajar dentro de ti
E me encontrar em mim.

Na maior parte do tempo
Sou a águia que viaja por céu e terra.
Mas hoje preciso da força do cavalo,
Pra pisar forte e ser leal a mim mesma.
Hoje eu preciso olhar na pupila
E reverenciar o tempo
Como meu amigo e meu senhor.

Pensamentos Insanos


Ela tinha vontade de voar, voar alto, mas com suas próprias asas.
Sorrisos falsos, abraços congelantes a única coisa que era verdadeira nela era o brilho dos olhos que contavam a verdade em apenas uma lágrima. 
Seus sonhos eram perigosos, era só dar um passo e ela se jogava de um penhasco tenebroso e sombrio, às vezes o medo tomava conta dela sem ao menos ter o porquê disso. 
O bem maior dela eram coisas que ela nem ao menos tinha em mãos, o sorriso embaraçoso revelava coisas que nem uma palavra explicava.
 O sonho era sua realidade.




quando penso em todos os lugares,
que eu ainda não conheci eu fico,
triste por estar aqui parado,
mas quando penso em todas as,
pessoas que eu ainda não conheci,
ufa!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Com esta felicidade sem fim
Em nossos sonhos vamos voar
Para o paraíso que só nos iremos estar.

Nos teus olhos eu vejo o meu destino.

Nos teus braços quero pelo resto da eternidade ficar.
Junto a ti quero viver, nada para nos atrapalhar,
apenas nós para completar.
 



queria poder pensar melhor,
sobre tudo o que eu vejo,
mas só consigo pensar,
em fechar os,
olhos

quarta-feira, 20 de junho de 2012

semana que vem eu
to ferrado com
conhecimento de causa com
um ponto fixo desequilibrante:

e a sombra da folhagem que
não se move nunca?
e o sol que só explode bem quieto
no canto dele?

E O SOL que encontrou um
canto dele numa esfera?

semana que vem é depois e tudo isso é fácil demais
segura
o meu cérebro que eu mostro

A Morta


A morta, sossegada
Olha pra cima como um peixe
Deitada, aliviada e estragada.
O brilho já não é o mesmo.

A água encosta a cabeça na pedra
Encaixa seu corpo entre os corais
gentilmente como um bebê
O que ela sempre quis foi morrer.

Agora feliz repousa
sem sentir desejo algum
um cigarro, uma cerveja, qualquer coisa.

Apenas uma casca oca,
Em vida achavam que era louca.
Louca? loucura era viver!
debaixo do sol vendo tudo se desfazer.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Destoando

Mochila e estojo jogados, cuidadosamente desorganizados em cima da cama.
O sol bate na parede e pinta o quarto de amarelo em um segundo.

Deixo a água escorrer antes de servir um copo, só pra curtir o barulho do cano matando a sede.
Lentamente preencho o vazio que o copo sentiu por tanto tempo.
Que copo sortudo.

Quantos estilhaços...
Quanta sede.

"Que curvas! Que curvas!



Teu rosto tem pontas afiadas,
que quando não bem manejadas,
desde o furor ao estupor,
esses olhos miúdos, 
são capazes de tornar,
o que é morno em calor,
a segurança em devaneio.


Como se fosse uma arte
tens maestria no olhar, o dom,
transcendendo o que é dito,
me dando motivos para suspirar.


Vem! Que até o tempo espera,
pra ver você crescer..."



Rafael Santos

À mente

Vem à mente
o papel em branco,
histórias de gente
do ar eu arranco.

Expremo o suco
do cérebro seco,
já morto, sem muco
encurralado em um beco

Vem à mente
fratricídio e covardia,
gente que mente,
esperando a anistia.

Ouço na cozinha o cuco
nervoso e impotente,
grita à porta o eunuco:
Pode abrir agora, é gente.